Emergência com o Gerbil: primeiros cuidados


Muito me perguntam sobre o que fazer em casos de emergência, quando o gerbil está machucado ou com alergia. Não sou veterinária, e o primeiro conselho que sempre dou é que a pessoa leve o animal ao veterinário especialista em animais exóticos e silvestres. Porém, já tive muitas consultas com veterinários de exóticos, e creio que posso passar para vocês as informações de primeiros cuidados básicos que eles me passaram em caso de alguns tipos de ferimentos.

Feridas abertas – briga entre gerbis

Primeiramente, você deve observar se há feridas abertas no corpo do animal, sangrando. Em caso positivo, deve atentar para o fato de que as feridas podem infeccionar. Se as feridas forem muito graves ou em muitas regiões, como no caso de brigas entre gerbis, o indicado é que você separe o animal gravemente ferido dos demais, e o coloque em um alojamento menor.
Você deve forrar o alojamento com papel toalha ou higiênico e trocar esta forração diariamente, mantendo o ambiente sempre limpo, desinfetando-o com álcool 70. Além disso, para impedir que as feridas infeccionem, a veterinária me receitou espirrar Merthiolate Spray (ou outros de mesma substância - digliconato de clorexidina 1,0% - como Nebasept e Asseptcare) nas feridas abertas, algumas vezes por dia. Este medicamento é muito importante para impedir que as feridas graves infeccionem, pois ele é antisséptico, antifúngico e cicatrizante.
Já vi criadores indicando limpar as feridas com soro fisiológico, e questionei a veterinária acerca desta questão. Ela me respondeu que é melhor não fazer isto, pois o soro não contem elementos antissépticos, e a pessoa ao realizar a limpeza pode acabar levando outros elementos infecciosos para os ferimentos. Então, a limpeza com soro fisiológico pode ser indicada apenas quando as feridas não estão abertas, para tirar o excesso de sangue ou sujeira da pelagem, e sendo preferencialmente realizada por um veterinário.
Dependendo da extensão dos ferimentos, pode ser que o médico veterinário ache necessário receitar conjuntamente o uso de anti-inflamatório e antibiótico, e para esta análise a consulta veterinária é essencial.
É importante lembrar que, caso o gerbil ferido tenha sido separado da colônia para tratamento, você pode tentar fazer a reapresentação do mesmo, apenas quando todas as feridas estiverem plenamente cicatrizadas, o que costuma acontecer em cerca de 2 semanas. Já ouvi dizer em alguns lugares que se um gerbil tirou sangue do outro a reapresentação seria impossível, mas digo que se trata de um falso boato. Já reapresentei aqui inúmeras vezes gerbis que brigaram e tiraram sangue entre si, então é totalmente possível. Porém, se você tentar e perceber que a reapresentação está muito difícil, talvez seja melhor desistir.
Aí, você pode: ou buscar outra companhia filhote para o gerbil sozinho, ou mantê-lo sozinho mas próximo do alojamento dos outros, para que não se sinta tão solitário. Se você optar por pegar outro gerbil filhote para realizar a apresentação, é importante saber que mesmo sendo filhote (até 2 meses de vida) não é garantido que a apresentação funcione. Neste caso, você corre o risco de ficar com dois alojamentos de gerbis sozinhos. É interessante pontuar que quando o gerbil está separado dos demais, mas ainda pode sentir o cheiro e ouvir os sons da colônia, recebendo seus alertas, pode ser que não sinta solidão. Inclusive, há gerbis que não toleram companhia e matam seus companheiros, e estes devem ser mantidos sozinhos para evitar carnificina entre gerbis.

 


Ossos quebrados

No caso de você perceber que o seu gerbil fraturou algum osso, como as patas ou o rabo, é essencial que o leve ao veterinário. Vou falar aqui sobre a minha experiência a este respeito, informando o que os veterinários me passaram nas consultas.
Na minha criação, já tive gerbis que tiveram seus ossinhos quebrados em brigas com outros gerbis. Uma quebrou o rabo, e outro quebrou o pezinho. Em um dos casos o veterinário tentou improvisar um instrumento para imobilização do rabo quebrado, porém a gerbil tirou o instrumento em algumas horas. Em uma segunda consulta, desta vez à outra veterinária, ela me disse que este procedimento não teria sido o ideal, pois o corpinho do gerbil é muito pequeno e eles são muito agitados, de forma que fica impossível a imobilização. Na verdade, na tentativa de arrancar o instrumento imobilizador, o gerbil pode acabar agravando o ferimento. Por isso, esta veterinária me receitou anti-inflamatório e me indicou deixar a gerbil em um alojamento pequeno e sem andares, evitando que ela pudesse se mover demais, a fim de acelerar sua cicatrização óssea. Quando o osso quebrado do gerbil cicatriza, pode ficar uma bolinha dura na região afetada, ou o osso pode solidificar de forma torta e permanecer assim.
Também é importante repassar o que me foi informado por esta veterinária: que a percepção de dor dos gerbis e outros animais é diferente da nossa. Primeiro, como na natureza eles são presas, evitam ao máximo demonstrar qualquer sinal de fragilidade e fraqueza, para não atrair os predadores. Por isso, é comum vermos gerbis muito feridos agindo normalmente, como se não estivessem sentindo dor. A sua cicatrização também parece mais acelerada, estando de acordo com seu metabolismo, que é mais rápido que o nosso. Isso permite que eles sejam animais resistentes, capazes de se recuperar geralmente rápido de seus ferimentos, quando adequadamente cuidados.




Alergia – porfirina no nariz e olhos

 A alergia nos gerbis costuma ser identificada quando eles liberam uma substância vermelha dos olhos e nariz. Muitos ficam assustados quando veem esta substância, pois acreditam ser sangue. Na verdade, o seu nome é porfirina, e trata-se da secreção natural liberada por roedores. Porém, sua liberação costuma ocorrer quando há algo no ambiente que está irritando as mucosas dos olhos ou nariz dos animais, muito frequentemente indicando uma reação alérgica.
Este é um assunto complicado, e confesso que ainda não obtive uma resposta derradeira sobre todas as causas possíveis de alergia entre os gerbis. Os causadores mais comuns são os substratos utilizados. A serragem, apesar de não ser tóxica, costuma produzir muito frequentemente alergia nos animais, assim como a areia de gato à base de argila e o granulado de madeira. Em geral, qualquer forração que solte pó fino poderá irritar o sistema respiratório dos animais, causando alergias e até problemas mais sérios. Por isso, muitos veterinários indicam que a forração mais segura contra alergia é o papel toalha picado, mas precisa ser trocado diariamente, pois nele proliferam-se fungos e bactérias. Outras forrações seguras costumam ser também hipoalergênicas, possuindo baixo risco de causar alergia, como o PipiWC ou a Xilapet.
Assim, se você perceber que o seu animal está secretando porfirina nos olhos você pode, se quiser, limpar seus olhos com soro fisiológico, com cuidado para não ferir o animal. Não indico limpar o nariz, pois pode acabar deixando entrar soro no seu nariz, o que poderia trazer problemas sérios.
Se você quiser investigar a causa da alergia, pode colocar o animal em um ambiente com os substratos seguros acima mencionados (papel toalha, PipiWC, Xilapet). Se a secreção parar, indica que provavelmente a alergia estava sendo causada pelo substrato anterior. Mas, devo dizer, já testei muitos substratos diferentes e ainda assim volta e meia vejo a porfirina no nariz de meus bichinhos. Então, agora suspeito que qualquer alteração ambiental ou climática possa gerar uma reação alérgica pontual nos animais assim como nos humanos, que logo depois passa, não sendo nada alarmante. Às vezes pode ter sido ocasionada por um objeto novo que você colocou no terrário, ou pelo feno, ou um novo brinquedo... Muitas possibilidades! Acredito que você só deva se preocupar ser for algo muito insistente, que não passe com o tempo, porque uma reação alérgica pode causar danos a longo prazo.
Quando o gerbil permanece afetado pela alergia por muito tempo ou tem outros problemas, pode ocorrer também a dermatite nasal. Neste caso, a pelagem ao redor do nariz cai e a pele fica avermelhada. A dermatite nasal também pode ser ocasionada por estresse, quando o animal coça repetidamente o nariz ou o esfrega nas grades da gaiola enquanto as roi; ou pela presença de algum microrganismo no local. Nesses casos, uma veterinária já me indicou espirrar Merthiolate Spray em um cotonete e passar cautelosamente ao redor do nariz, na região afetada, com muito cuidado para não deixar o líquido entrar nas narinas do animal. Se a irritação nasal não passar e ficar ainda pior, é aconselhável procurar um veterinário, pois pode indicar problemas mais sérios. Além disso, deve-se considerar aumentar e enriquecer o ambiente do animal com brinquedos, e soltá-lo mais para passeios fora da gaiola.



Inflamação e tumores na Glândula de Odor

A glândula de odor é tipo uma bolinha rugosa localizada no centro da barriga do gerbil. Se você reparar, vai perceber que ele costuma esfregar esta glândula nos objetos, abaixando-se, a fim de deixar seu cheiro no ambiente. Por ser uma região sensível, algumas vezes ela pode inflamar, formando uma feridinha e inchaço no local. Nesse caso, é essencial buscar um médico veterinário que irá receitar anti-inflamatório e antibiótico, dentre outros cuidados. Além disso, posso adiantar que uma veterinária me indicou espirrar Merthiolate Spray (ou outros de mesma substância, como Nebasept e Asseptcare) nesta região, a fim de evitar a infecção da ferida aberta. Porém, vale ressaltar que esta medida pode provocar estranhamento entre os animais da colônia, uma vez que o cheiro de um deles poderá ser modificado pelo medicamento aplicado na glândula de odor.
Também é importante manter o ambiente do animal sempre limpo, a fim de não provocar mais irritação no local inflamado. Uma alimentação que seja pobre em gordura também é importante para evitar o agravamento da inflamação, então é bom cortar os petiscos gordurosos, como amendoim e semente de girassol, por um tempo.
Em alguns casos, também é possível que na região da glândula de odor se desenvolva um tumor, criando uma massa disforme que continua crescendo. Apenas o veterinário especialista conseguirá realizar o diagnóstico correto e receitar o tratamento adequado.

     

Falhas na pelagem

 Eventualmente, podem ocorrer falhas na pelagem do gerbil. Isso pode acontecer por muitos fatores, como uma alimentação desbalanceada ou a existência de algum fungo ou outros microrganismos na pele do animal. Quando levei um gerbil filhote que chegou para mim de outro criador apresentando este sintoma, a veterinária me receitou espirrar ou passar com cotonete Merthiolate Spray na região das falhas e suplementar a alimentação com Roevit ou Glicopan GoldLembrando, muito cuidado para não deixar o medicamento entrar nos olhos, nariz e orelhas do animal.
Também é importante se certificar de que o restante das condições de alimentação, alojamento e forração estejam adequados. Para saber mais sobre o polivitamínico indicado, consulte a postagem do blog sobre alimentação (http://gerbilesperto.blogspot.com/2017/11/alimentacao-ideal-para-gerbil.html); e a respeito das demais condições de criação ideais consulte o guia de cuidados básicos do blog (http://gerbilesperto.blogspot.com/2018/02/guia-de-cuidados-basicos-gerbil.html).




Espero ter ajudado! Qualquer dúvida, pode comentar aqui ou falar comigo pelo grupo do Facebook Tudo sobre Gerbil (Esquilo da Mongólia)!  =*




(Texto de Raquel Haddad)

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